Ainda que possa sugerir uma boa qualidade, o que pretendo
definir nas linhas que se seguem é um grave problema crônico e contagioso que
tem afligido cada vez mais pessoas, e que posso notar um crescente aumento nos
últimos tempos. Trata-se de mentes blindadas.
Ao longo da história, vários estudiosos devotaram suas
vidas a investigar a forma como adquirirmos conhecimento e como sofisticamos o
conhecimento que adquirimos, e dentre os que tive a oportunidade e o prazer de
tentar compreender, não me lembro de um sequer que tivesse sugerido que o
desenvolvimento intelectual, bem como sua sofisticação, pudesse se dar num
absoluto ostracismo.
Tive contato também com diversas tentativas de
desenvolvimento de técnicas para se produzir conteúdo imparcial e cheguei à
conclusão de que, embora seja impossível produzir conteúdo imparcial, fazer o
possível para que o conteúdo seja o mais imparcial possível é uma conduta
necessária.
O motivo é bem simples: Qualquer que seja o experimento
ou a pesquisa necessitará de uma base para ser experimentada, uma base
conceitual, sensorial e por vezes até ideológica, e sem essa base a experiência
nada dirá. Por outro lado, deve ser tomado um cuidado constante para que a base
não suprima os dados da experiência, impossibilitando a chance de aquisição ou
expansão do conhecimento.
Acontece muito quando se espera um determinado resultado
e ele não se mostra e é aqui que mora o problema. Se o resultado esperado não
acontece, ou seja, se há divergência entre o esperado e o dado apresentado,
basta abrir a mente e tentar entender os motivos pelos quais o resultado se
deu, ou também os motivos pelos quais os resultados esperados eram outros senão
os que se deram.
As bases são necessárias para compreender o mundo e seus
fenômenos, mas não precisam ser sólidas o bastante para contestar o próprio
mundo. Basta compreender que se a principal função dessas bases é a compreensão
do mundo e não estão proporcionando essa compreensão, o que se deve fazer é
contestar essas bases, aperfeiçoá-las, fazer com que elas consigam explicar
cada vez mais coisas, e não introduzir possíveis erros para que o mundo
continue sendo explicados nas bases antigas. Esse é o processo inverso.
Ao sofrer abalos do mundo que não é capaz de explicar, a
mente se sofistica, evolui, e tende a compreender cada vez uma gama maior de
fenômenos. É assim que o conhecimento se desenvolve.
Quando a mente é blindada,
ela detém todas as respostas para todas as possíveis perguntas, e tudo aquilo
que não pode ser explicado por suas bases não denotam a limitação da mente, mas
a ausência de sentido do mundo. Qualquer problema que supere as condições de
observação dessas bases sugere erro. Na verdade, trata-se apenas da falta de
desapego a essas bases, desapego que pode ter das mais variadas causas.
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