terça-feira, 1 de novembro de 2016

Sobre mentes blindadas

Ainda que possa sugerir uma boa qualidade, o que pretendo definir nas linhas que se seguem é um grave problema crônico e contagioso que tem afligido cada vez mais pessoas, e que posso notar um crescente aumento nos últimos tempos. Trata-se de mentes blindadas.
Ao longo da história, vários estudiosos devotaram suas vidas a investigar a forma como adquirirmos conhecimento e como sofisticamos o conhecimento que adquirimos, e dentre os que tive a oportunidade e o prazer de tentar compreender, não me lembro de um sequer que tivesse sugerido que o desenvolvimento intelectual, bem como sua sofisticação, pudesse se dar num absoluto ostracismo.
Tive contato também com diversas tentativas de desenvolvimento de técnicas para se produzir conteúdo imparcial e cheguei à conclusão de que, embora seja impossível produzir conteúdo imparcial, fazer o possível para que o conteúdo seja o mais imparcial possível é uma conduta necessária.
O motivo é bem simples: Qualquer que seja o experimento ou a pesquisa necessitará de uma base para ser experimentada, uma base conceitual, sensorial e por vezes até ideológica, e sem essa base a experiência nada dirá. Por outro lado, deve ser tomado um cuidado constante para que a base não suprima os dados da experiência, impossibilitando a chance de aquisição ou expansão do conhecimento.
Acontece muito quando se espera um determinado resultado e ele não se mostra e é aqui que mora o problema. Se o resultado esperado não acontece, ou seja, se há divergência entre o esperado e o dado apresentado, basta abrir a mente e tentar entender os motivos pelos quais o resultado se deu, ou também os motivos pelos quais os resultados esperados eram outros senão os que se deram.
As bases são necessárias para compreender o mundo e seus fenômenos, mas não precisam ser sólidas o bastante para contestar o próprio mundo. Basta compreender que se a principal função dessas bases é a compreensão do mundo e não estão proporcionando essa compreensão, o que se deve fazer é contestar essas bases, aperfeiçoá-las, fazer com que elas consigam explicar cada vez mais coisas, e não introduzir possíveis erros para que o mundo continue sendo explicados nas bases antigas. Esse é o processo inverso.
Ao sofrer abalos do mundo que não é capaz de explicar, a mente se sofistica, evolui, e tende a compreender cada vez uma gama maior de fenômenos. É assim que o conhecimento se desenvolve.

 Quando a mente é blindada, ela detém todas as respostas para todas as possíveis perguntas, e tudo aquilo que não pode ser explicado por suas bases não denotam a limitação da mente, mas a ausência de sentido do mundo. Qualquer problema que supere as condições de observação dessas bases sugere erro. Na verdade, trata-se apenas da falta de desapego a essas bases, desapego que pode ter das mais variadas causas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário