segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O dom de ser Professor

Semana passada teve início o meu estágio de observação no curso de Licenciatura e foi com certa nostalgia que entrei numa sala de aula do ensino médio quinze anos depois da última vez que entrei em uma como aluno. É meio complicado dissociar a visão de um aluno completamente desinteressado, como era o caso, da visão de um professor em potência ao observar as aulas, já que, ainda que muitos anos tenham se passado e a evolução tecnológica tenha construído um espaço completamente novo nas salas de aula, os papéis representados pelas figuras dentro da sala são os mesmos, e o roteiro pode sofrer algumas alterações, mas a obra segue ainda a história original.

Quando citei o desinteresse não foi com o sentido de crítica, mas de constatação de um fato. Pra que você também faça isso basta se lembrar de como funcionava sua agenda quando estava no ensino médio. O que era mais importante? Levando isso em conta, eis o que julgo ser o primeiro dos desafios de um professor: Como despertar o interesse de uma turma inteira de alunos para aquilo que pretende abordar?
Se eu tenho a resposta? Claro que não, mas a cada reflexão sobre o assunto, meu respeito aos professores que tive (e tenho) aumenta e muito. A professora de matemática que jogava giz na molecada pra que se concentrassem, eu achava maluca, mas nunca consegui esquecer bhaskara. O professor de filosofia que estourou uma bexiga sem conexão alguma com nada do que ele estava falando, mas não esqueço que ele estava falando de ato e potência, e os exemplos não param, mas também não é somente sobre isso que quero falar.
As dificuldades dentro da sala de aula são muitas, desde a própria evolução tecnológica que poderia estar servindo aos propósitos docentes, mas que na esmagadora maioria das vezes serve como mais uma distração, até o conceito formado que toda a sociedade tem acerca do papel a ser exercido pelo professor e pelo aluno. Mesmo a metodologia bancária, ou seja, o professor fala e os alunos escutam, estando obsoleta, é o que os alunos e responsáveis esperam e qualquer coisa diferente disso gera um choque muitas vezes sem bons resultados, um reflexo de outra dificuldade, mas que vem de fora, a educação.
Não parece clara a diferença da educação enquanto comportamento e conveniência social e da educação enquanto formação. São dois momentos distintos, mas complementares no processo. Um aluno não chega na escola pronto para receber conhecimento e retornar mais sábio pra casa apenas, até porque o processo das aulas proporcionam aprendizado em uma via de mão dupla. Mas professor nenhum pega alunos enquanto tabulas rasas para imprimir neles a cultura da qual eles devem preferir ou não. Essa educação enquanto comportamento, cultura e conveniência social é potencializada pela figura do professor, mas ela é desenvolvida bem antes da escola, trata-se da subjetividade de cada um.

É claro que essa visão ainda se trata de um recorte que um humilde graduando faz da parte que lhe é observável e muitas outras dificuldades poderiam (e deveriam) ser comentadas, mas de todo modo, o mínimo que podemos ter com relação a aqueles que nos ensinaram desde escrever o próprio nome até a desenvolver teorias complexas a ponto de alimentar o nosso ego, é respeito e gratidão por uma figura que se capacita e aceita uma profissão de extrema importância sem deixar tão claro que possuem um dos mais valiosos dons pra exercê-la, o dom de ser professor.

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