Semana passada teve início o meu estágio de observação no
curso de Licenciatura e foi com certa nostalgia que entrei numa sala de aula do
ensino médio quinze anos depois da última vez que entrei em uma como aluno. É
meio complicado dissociar a visão de um aluno completamente desinteressado,
como era o caso, da visão de um professor em potência ao observar as aulas, já
que, ainda que muitos anos tenham se passado e a evolução tecnológica tenha
construído um espaço completamente novo nas salas de aula, os papéis
representados pelas figuras dentro da sala são os mesmos, e o roteiro pode
sofrer algumas alterações, mas a obra segue ainda a história original.
Quando citei o desinteresse não foi com o sentido de
crítica, mas de constatação de um fato. Pra que você também faça isso basta se
lembrar de como funcionava sua agenda quando estava no ensino médio. O que era
mais importante? Levando isso em conta, eis o que julgo ser o primeiro dos
desafios de um professor: Como despertar o interesse de uma turma inteira de
alunos para aquilo que pretende abordar?
Se eu tenho a resposta? Claro que não, mas a cada
reflexão sobre o assunto, meu respeito aos professores que tive (e tenho)
aumenta e muito. A professora de matemática que jogava giz na molecada pra que
se concentrassem, eu achava maluca, mas nunca consegui esquecer bhaskara. O
professor de filosofia que estourou uma bexiga sem conexão alguma com nada do
que ele estava falando, mas não esqueço que ele estava falando de ato e
potência, e os exemplos não param, mas também não é somente sobre isso que
quero falar.
As dificuldades dentro da sala de aula são muitas, desde
a própria evolução tecnológica que poderia estar servindo aos propósitos
docentes, mas que na esmagadora maioria das vezes serve como mais uma
distração, até o conceito formado que toda a sociedade tem acerca do papel a
ser exercido pelo professor e pelo aluno. Mesmo a metodologia bancária, ou
seja, o professor fala e os alunos escutam, estando obsoleta, é o que os alunos
e responsáveis esperam e qualquer coisa diferente disso gera um choque muitas
vezes sem bons resultados, um reflexo de outra dificuldade, mas que vem de
fora, a educação.
Não parece clara a diferença da educação enquanto comportamento
e conveniência social e da educação enquanto formação. São dois momentos
distintos, mas complementares no processo. Um aluno não chega na escola pronto
para receber conhecimento e retornar mais sábio pra casa apenas, até porque o
processo das aulas proporcionam aprendizado em uma via de mão dupla. Mas
professor nenhum pega alunos enquanto tabulas rasas para imprimir neles a
cultura da qual eles devem preferir ou não. Essa educação enquanto
comportamento, cultura e conveniência social é potencializada pela figura do
professor, mas ela é desenvolvida bem antes da escola, trata-se da
subjetividade de cada um.
É claro que essa visão ainda se trata de um recorte que
um humilde graduando faz da parte que lhe é observável e muitas outras
dificuldades poderiam (e deveriam) ser comentadas, mas de todo modo, o mínimo
que podemos ter com relação a aqueles que nos ensinaram desde escrever o
próprio nome até a desenvolver teorias complexas a ponto de alimentar o nosso
ego, é respeito e gratidão por uma figura que se capacita e aceita uma
profissão de extrema importância sem deixar tão claro que possuem um dos mais
valiosos dons pra exercê-la, o dom de ser professor.
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